Michel Fernandes, do Aplauso Brasil (michel@aplausobrasil.com.br)
SÃO PAULO – Tratar das relações entre mãe e filho pode se configurar em armadilha perigosa, estrada estreita e repleta de curvas abissais que desembocam em lugares-comuns, não é, nem de longe, o caso de Elzemann Neves, autor de Amor de Mãe – Parte 13, sob direção do talentoso ator e diretor Eric Lenate, em cartaz às quintas e sextas-feiras no Espaço Beta do SESC Consolação.
Elzemann buscou como fonte de inspiração o formato do Grand Guignol – gênero que, embora tenha surgido no teatro de mesmo nome, na França, é amplamente conhecido por meio do cinema de horror, dos mais grotescos e sanguinolentos, do pós Segunda Guerra – conservando mais o inusitado das situações – um filho que 0decide nascer, trinta anos depois da gestação, a biografia nada convencional da mãe, as sucessões de incestos e outras aberrações traçadas com as tintas de refinado e sarcástico humor.
Assim como o autor norte-americano Nick Silver (conhecido pela montagem recente de Pterodáctilos, com Marco Nanini e Mariana Lima) faz em Homens Gordos de Saia, Neves utiliza o sangue e o incesto como alegoria das relações familiares e pessoais em efervescente caos e desprovida de paradigmas.
É desse embate patético, e por isso mesmo risível, que a violência e o suspense do Grand Guignol tomam corpo e a interpretação grandiloquente de Lulu Pavarin, como a patética e inexperiente mãe – superprotetora a ponto de dar à luz, a contragosto, três décadas depois da concepção – dá a dimensão da violência não aparente a que estamos submersos: a opressão da decisão do outro sobre nossa vida.
Para o filho, interpretado por Rodrigo Audi, o ator oscila do intelectual elaborado ao pueril jovem-adulto que, à Kaspar Hauser, conhece tudo pela primeira vez, desejável ao personagem. Acredita nas estapafúrdias e apocalípticas versões do mundo narradas pela mãe. Mas é picado pela curiosidade do que há além das paredes de seu rural casebre.
Plena de predicados, o cuidado pedido ao espetáculo é relativo à duração. Não que seja cansativo, mas há excesso de ações físicas que se tornam arestas a serem recortadas.

Ficha Técnica:
Texto: Elzemann Neves
Direção: Eric Lenate
Elenco: Lulu Pavarin e Rodrigo Audi
Assistência de direção: Marcelo Villas Boas
Cenário, luz: Eric Lenate
Figurino: Rosângela Ribeiro
Assistência de iluminação: Pilar Valdelvira
Fotos e arte gráfica: Laerte Késsimos
Produção Executiva: Dani Dezan e Lulu Pavarin
Estreia: Dia 10 de janeiro de 2013. Quinta, às 21h.
Temporada: Até 9 de fevereiro. Quinta e sexta, às 21h. Duração: 80 minutos.
Gênero: comédia sombria/tragicomédia
Recomendado para maiores de 14 anos.
Preços: R$ 10,00 (inteira); R$ 5,00 (usuário matriculado no SESC e dependentes, +60 anos, estudantes e professores da rede pública de ensino). R$ 2,50 (trabalhador no comércio e serviços matriculado no SESC e dependentes).
Epaço Beta – 3º andar – Lotação: 40 lugares
Sesc Consolação
Rua Dr. Vila Nova, 245
Tel: 11 3234-3000