
Afonso Gentil, especial para o Aplauso Brasil (aplausobrasil@aplausobrasil.com)
Verdade seja dita: o Commune é um “coletivo teatral” que nos faz esperar por um futuro promissor para essa invenção de produção nascida – quem sabe – nos círculos escolares de olho nos fomentos. A partir daí, passamos a nos submeter com freqüência assustadora às estripulias (para dizer o menos) transgressoras de boa porção desses coletivos, sempre sob o pretexto de “renovação formal”, mesmo que com o conteúdo ferido mortalmente.

Mas, falemos de O Mentiroso, de Carlo Goldoni, estudioso da Commedia Dell’ Arte, secular manifestação do riso universal, agora recriada com certeira alegria e em cartaz no Teatro Commune.
Goldoni ficou com a fama (boa) de ter metodizado as improvisações sem freios dessa arte do riso que se fazia ao ar livre, pela Europa dos séculos 17 e 18, dando a elas feições dignas do teatro sério hegemônico nos palcos de então. Daí a ser preferido pela aristocracia foi um passo tão significativo para a história do teatro quanto a descida do homem moderno à lua. Nascia o classicismo.
Felizmente os cultores do gênero, já visto como “comédia de costumes”, tem se mantido ativos através dos séculos, notadamente no seu berço italiano. Daí a importância do

Commune ao cultuar uma encenação “estilizada e alegórica”, num processo de formação de intérpretes com um pé no clownesco.
Como todo grupo teatral (preferimos assim), o Commune tem na dupla Augusto Marin e Michelle Gabriel seus animadores artísticos, enriquecendo com suas presenças na cena (além de funções variadas e básicas) anos de busca pelo tamanho exato do riso goldoniano.
Há 3 anos, inaugurando seu espaço da Rua da Consolação, a dupla marcou um belo tento com a montagem de Arlecchino. Se não repete inteiramente a boa dose, também não desmerece a confiança por nós depositada em seu trabalho (árduo).
Tentando entender: Marin repartiu a direção com a veterana e boa atriz Maria Eugênia de Domênico, de formação diversa da dele. O diretor-ator dispensa freios, é inquieto e irreprimível na dose certa para dar vida ao Lélio protagonista, emblemático do “mundo fascinante e embriagador da imaginação” em que se enreda um mentiroso contumaz
O, sempre competente e carismático, ator Carlos Capeletti, como Pantaleão, o pai, mantém permanente e prazeroso duelo cênico com Marin.
O numeroso elenco, embora com bom preparo físico, não consegue um resultado de alto nível. Mesmo assim sobressai a leveza das intervenções de Augusto Pompeo como o criado Arlecchino.
Os demais elementos (e não menos importantes) da encenação (música e executantes em cena; preparação das máscaras que atravessam o espetáculo; figurinos e luz) se harmonizam na discrição.
Você pode não estar diante do melhor espetáculo do ano e julgamos a equipe estar longe de tal pretensão, mas a espontaneidade criativa que explode do palco pode segurá-lo prazerosamente na platéia.
O Mentiroso/ Teatro Commune / Rua da Consolação, 1218 / fone 3807-0792 /83 lugares / 12 anos / R$30 (inteira) Atenção para os dias e horários:Segunda e Domingo às 20 horas/ Sábado 21 h/ Até 28/fevereiro