SÃO PAULO – “Oito histórias, oito nomes, oito possibilidades. O infinito em uma bolha multicolorida. Fazemos esse espetáculo hoje para que um dia ele não precise ser feito. Para que um dia o Brasil deixe de ser o país que mais mata trans e travestis no mundo”. Assim Luh Maza, integrante do espetáculo, anunciou o espetáculo Cabaret Trans Peripatético, no seu Facebook. Em cartaz a partir de ontem (4), no Estação Satyros (Praça Roosevelt, 134), sextas, às 21h; sábados e domingos, às 19h30estará em cena sextas, às 21h; sábados e domingos, às 19h30.
A peça é a segunda parte da Trilogia do Antipatriarcado, composta por Pink Star e a remontagem de Transex (previsão de junho deste ano). Cabaret Trans Peripatético é feito a partir das experiências biográficas dos atuantes, que acabaram ecoando na proposta de dramaturgia. O elenco é composto pelas atrizes transexuais/travestis Daniela Funez, Fernanda Kawani, Luh Maza (que transicionou, durante o processo, do gênero fluido para mulher trans); os atores transexuais Gabriel Lodi, Léo Perisatto e João Henrique Machado; o artista agênero Guttervil e a artista intersexo Sofia Riccardi.
Do encontro destes artistas, com trajetórias bem diferentes, Os Satyros buscam continuar o trabalho de discutir os desafios desses corpos livres, contrapondo o estigma de corpos dissidentes na sociedade. Por isso, veem o espetáculo como um manifesto pela representatividade, espaço social e afeto.
Além da experiência de cada artista, o grupo usaram como referênciasPaul B. Preciado – em especial, seu Manifesto Contrassexual –, além de reflexões pós-coloniais acerca do termo transfake, do determinismo de padrão homem e mulher e da arte como manifesto de um espaço estético plural.
Pink Star ainda em cartaz
O primeiro espetáculo da trilogia, o Pink Star ainda está em cartaz no Estação Satyros, mesmo lugar que Cabaret Trans Peripatético. Pink Star aborda as relações da pós-família com as questões de gênero e a teoria Queer, a partir de textos teóricos de Judith Butler e Paul B. Preciado, entre outros. O espetáculo parte da discussão de como a família, a escola, a religião e todas as outras instituições sociais constroem o homem ou a mulher que perfaz a nossa identidade pessoal.
Já em Transex, o foco está no cotidiano de transexuais que viviam na Praça, na época da primeira montagem, em 2004. O texto, baseado em fatos reais e inspirado por Phedra de Córdoba, diva dos Satyros, mescla comédia, drama, vaudeville, dublagem e farsa, em uma transgressão estética proposital. A solidão da grande cidade, o isolamento social dos transexuais e travestis e as dificuldades do amor fazem parte deste universo surreal.
Transex , que termina essa trilogia, foi extremamente importante na história d’Os Satyros, por ser uma das primeiras montagens da Cia na Praça Roosevelt com abordagem documental. A montagem trazia transexuais que viviam no entorno da sede do grupo. Entre elas, Phedra de Córdoba e Savana Meireles. A remontagem está marcada para estrear no mês de junho, em 2018.
Os Satyros e a Praça Roosevelt
Desde a sua chegada à Praça Roosevelt, Os Satyros desenvolveram várias ações de integração com o entorno. Neste período, seus frequentadores eram, em sua maioria, traficantes, travestis e prostitutas que viviam e trabalhavam na região; e o local era considerado um dos mais violentos da cidade.
Tal iniciativa não apenas trouxe novos integrantes para Os Satyros, mas interferiu diretamente na produção artística do grupo, em espetáculos como Transex (2004) e A Vida na Praça Roosevelt (2005), entre outros. O projeto com as travestis e transexuais da região central da cidade continuou ativo e culminou no espetáculo Hipóteses para o Amor e a Verdade (2009), que contou com a participação de quatro transexuais.
Phedra de Córdoba, que surgiu no grupo logo no início da sede na Praça Roosevelt, participou ativamente na história artística dos Satyros, até seu último ano de vida, em 2006.
Serviço
Espetáculo: Cabaret Trans Peripatético
Duração: 75 min.
Local: Estação Satyros – Praça Roosevelt, 134 – tel. 3258 6345
Dias: Sextas, 21h | sábados e domingos, 19h30
Temporada: 4/5 a 31/07
Ingresso: R$20,00 (inteira) | R$10,00 (meia) | R$ 5,00 (morador da Praça Roosevelt) |Pessoas não binárias, transexuais, travestis e agêneros entram de graça.
Telefones para reservas: 3258 6345 / 3231 1954
Recomendação: 18 anos
Ficha Técnica
Direção: Rodolfo García Vázquez
Assistência de direção: Felipe Moretti
Dramaturgia: Coletiva
Supervisão dramatúrgica: Luh Maza, Ivam Cabral e Rodolfo García Vázquez
Coordenação de Produção: Daniela Machado
Elenco: Daniela Funez, Fernanda Kawani, Gabriel Lodi, Guttervil, João Henrique Machado, Léo Perisatto, Luh Maza e Sofia Riccardi
Cenografia: Dan Oliveira e Rafael Santos
Cenotecnia: Alexandre Barbosa
Design: Henrique Mello
Operação de luz: Dennys Gonçalves e Axl Cunha
Operação de som: Alexandre Apolinário e Laysa Alencar
Figurinista: Lenin Cattai, Márcia Daylin
Assistência de Figurino: Cinthia Cardoso
Fotografia: Laysa Alencar e Salim Mhanna
Sonoplastia: Rodolfo García Vázquez
Costureira: Lenin Cattai
Produção executiva: Israel Silva e Silvio Eduardo
Administração: Lucas Allmeida
Realização: Cia. De Teatro Os Satyros
Assessoria de Imprensa: Bruna Buzatto, Diego Ribeiro e Robson Catalunha
Foto: André Stéfano