Nanda Rovere, especial para o Aplauso Brasil (aplausobrasil@aplausobrasil.com)

SÃO PAULO – Os paulistanos tem só mais duas semanas para prestigiar o espetáculo O Feio. O texto é de Marius von Mayenburg e a tradução de Christine Röhrig. Alvise Camozzi assina a direção. Música Original: Daniel Maia e a trilha compilada é de Laerte. Elenco: Alvise Camozzi, Malu Bierrenbach, Pedro Barreiro e Rodrigo Lopez. Quintas e Sextas às 21h, no Sesc Consolação, Espaço Beta – 3º andar.
A peça discute a preservação da identidade diante de um mundo em que o bem material adquiriu um valor exacerbado e a beleza perfeita é o sonho de homens e mulheres.
Uma realidade em que cada vez mais o respeito ao próximo é deixado de lado e a busca pelo prestígio e pelo dinheiro rege as ações humanas.
Para a obtenção do sucesso, a beleza é um quesito fundamental, muitas vezes mais importante do que o talento e o conhecimento.
Não faltam métodos para a conquista de uma boa aparência, mas não são poucos os casos de pessoas que fazem plásticas e se arrependem, sobretudo devido a erros médicos.
De autoria de Marius Von Mayenburg, O Feio narra a história de Lette, um engenheiro de sistemas que fica desesperado quando descobre que é feio.

Só percebe que as pessoas o consideram monstruoso, quando não é chamado para apresentar o seu invento num congresso.
Seu assistente é convidado para ir no seu lugar, pois segundo o seu chefe, devido a sua feiúra, não conseguiria chamar a atenção dos clientes e assim vender o produto.
Decide então fazer uma cirurgia plástica para tentar melhorar a sua aparência e se transforma num homem muito bonito.
A sua fisionomia encanta a todos, homens e mulheres. Começa a ser requisitado e começa a ficar arrogante.
O seu cirurgião o convida para participar de palestras e começa a criar vários clones de seu rosto, sem o seu conhecimento.
Assim que as pessoas começam a aparecer nas ruas com o rosto igual ao seu, no entanto, Lette deixa de ser novidade, perde o emprego e percebe que ser bonito não garante a felicidade ( muito pelo contrário).
Alvise Camozzi é um artista sempre em busca de textos que suscitem reflexões sobre o ser humano e o mundo contemporâneo.
Realiza um teatro em que a linguagem cênica está a serviço de obras impactantes, que contribuem para que o teatro dê aos espectadores subsídios para o aprimoramento do senso crítico.
A peça apresenta um humor que lembra os seriados americanos de ¨comédia b¨ para salientar o quanto a feiura está suscetível a ¨chacotas¨ e desrespeito, mas aos poucos a trama ganha dramaticidade, na medida em que o personagem, apesar de bonito, se torna uma pessoa infeliz.
O caráter surreal do texto é evidenciado também por algumas pequenas coreografias e gestos que salientam e o quanto o ser humano pode ser ridículo.
Os atores mudam de personagem rapidamente e as cenas praticamente se sobrepõem umas às outras.
A história é contada em diversos ambientes, que se modificam com mudanças de luz, objetos, mesas e cadeiras.
Realizadas pelos próprios atores, essas mudanças podem tirar um pouco a atenção do espectador da cena principal, o que não é ruim porque deixa a curiosidade do que está para acontecer na intrigante história de Letter. Além disso, deixa a montagem dinâmica.
O Feio merece ser visto e fica em cartaz até 14/12. Mexe na ferida de uma sociedade que precisa entender que a ditadura da beleza não traz benefícios aos seres humanos e que a nossa identidade precisa ser preservada para que a nossa essência não seja perdida.
A partir de 14 de janeiro de 2013, no mesmo espaço em que está em cartaz a versão de Camozzi, será apresentado outra versão da obra de Marius von Mayenburg, O Homem Feio, direção e cenografia de André Pink.
Sobre Alvise Camozzi
Nasceu em Veneza, Itália. Estudou em Milão, na Scuola d’Arte Drammatica Paolo Grassi, e na escola de Commedia dell’Arte A l’Avogaria, de Veneza.
Em 2001 chega ao Brasil. Entre os trabalhos como ator estão Sonho de Núpcias, de Otávio Frias Filho, e Fausto Zero, dir Gabriel Villela e Correnteza, de Gabriela Mellão.
Como diretor: Via de Regra, O Bosque, O Astronauta, Babel e Mozart Apaga a Luz, entre outros.
Ficha Técnica
Texto: Marius von Mayenburg
Tradução: Christine Röhrig
Direção: Alvise Camozzi
Elenco: Alvise Camozzi, Malu Bierrenbach, Pedro Barreiro e Rodrigo Lopez
Música Original: Daniel Maia
Trilha Compilada: Laerte
Serviço:
O Feio
SESC Consolação
Rua Dr. Vila Nova, 245 – São Paulo – SP
08/11 a 14/12.
Quintas e Sextas, às 21h. Exceto dias 15 e 16/11.
Duração: 60 min. Espaço Beta – 3º andar.