Luís Francisco Wasilewski, especial para o Aplauso Brasil (lfw@aplausobrasil.com)

“Eu detesto ator que é busto vivo”. Esta frase me foi dita em uma entrevista que realizei com Miguel Falabella, no ano de 2008. E ele a disse como um elogio ao trabalho de Ìtalo Rossi no seriado Toma Lá Dá Cá. E Miguel tinha razão. O ator que nos deixou nesta última terça feira, não quis se acomodar nos seus 57 anos de teatro, e fez do Seu Ladir uma personagem que hoje figura entre as criações mais inesquecíveis da televisão brasileira. Ladir alcançou tamanha importância que criou uma expressão, o “é mara”.
A história teatral de Ítalo é marcada pelos grandes movimentos do teatro brasileiro. Começou no Teatro Brasileiro de Comédia, onde seu grande papel foi o Sakini em A Casa de Chá do Luar de Agosto. Depois, ao lado de Fernanda Montenegro e Sérgio Britto, fundou o Teatro dos Sete, cuja criação antológica foi a montagem de O Mambembe, de Artur Azevedo, sob a direção de Gianni Ratto.
Ítalo inicia então uma das trajetórias mais consistentes de um intérprete brasileiro. Representa dramaturgos como Goldoni, Arthur Miller, Brecht e Suassuna. É um dos primeiros atores brasileiros a ser dirigido por Gerald Thomas na antológica encenação Quatro Vezes Beckett, onde dividia o palco com os não menos talentosos Sérgio Britto e Rubens Corrêa. Também se aventura pela direção, tendo especial predileção por encenar textos do dramaturgo inglês Harold Pinter.
A década de 1990 marca os seus últimos trabalhos como ator e uma fértil parceria com o diretor Moacyr Góes. Foi quando tive o privilégio de vê-lo em cena. Primeiro, ao lado de Marieta Severo em Antígona onde interpretou Creonte, e depois em Gata em Teto de Zinco Quente. A criação de Ítalo para o Papaizão da peça de Tennesse Williams é um dos momentos que guardarei para sempre na memória como a demonstração de um ator soberano em seu ofício.

Agora, Ítalo nos deixou. Ele nunca foi um “busto vivo”. Era, sim, um dos maiores atores brasileiros e que nunca teve medo do desafio e se reinventar a cada personagem.