
EM REDE – Nicette Bruno morreu. E com sua partida, perdemos uma parte importante da história do teatro brasileiro. Seguindo uma tradição comum do univeso circense, Nicette nasceu em uma e criou sua família de artistas.
Filha da atriz Eleonor Bruno, para quem Nelson Rodrigues escreveu especialmente Dorotéia, ela e a mãe atuaram juntas em diversos espetáculos. Em O Efeito dos Raios Gama nas Margaridas do Campos,de Paul Zindel, encenado em 1974, sob direção de Antônio Abujamra além das duas no palco, também estava, estreando com treze anos de idade, Beth Goulart, uma das filhas do casamento de Nicette com Paulo Goulart. Abujamra foi quem mais vezes dirigiu a atriz em sua carreira teatral. A Trilogia da Louca, Crimes Delicados, Ulf são alguns dos espetáculos consolidadores de sua parceria com a família Goulart.
Em Gertrude Stein, Alice Toklas e Pablo Picasso, de Alcides Nogueira Abujamra dividiu a direção com Márcio Aurélio. Nicette interpretou a célebre escritora lésbica Gertrude Stein e teve um de seus maiores momentos como intérprete, onde ela pôde experimentar a representação de uma personagem fora do padrão que, especialmente a TV, cristalizou para o tipo de personagens interpretados por ela. Em 2016, exatos vinte anos após a montagem original, sua filha Barbara Bruno remontou a peça e interpretou o papel, outrora defendido pela mãe.
Neste ano também, tive o privilégio de assistir o duelo grandioso de Nicette e Eva Wilma na montagem de O Que Terá Acontecido a Baby Jane?, assinada por Charles Moeller e Cláudio Botelho. Interpretando as irmãs Hudson, as duas protagonizaram um embate histórico no teatro brasileiro.