
Crítica da peça “Dos Escombros de Pagu”, de Michel Fernandes, escrita especialmente para o jornal Diário de São Paulo
Publicada na edição impressa de domingo (18)
Cem anos de Pagu. Sim, mas quem é Pagu? Não, não participou da Semana de Arte Moderna de 1922. Eterna vanguardista, quebrou tabus sociais e sexistas, crítica teatral e literária participou do Movimento Antropofágico, do qual foi musa, militou no Partido Comunista etc. Contudo, demorou cem anos para que seu nome, efetivamente, saísse do limbo dos achismos e exalasse o perfume da liberdade que seguiu com veemencia, mesmo que para isso pagasse alto preço do desprezo sócio-político. Pagu ressurge no solo “Dos Escombros de Pagu” que está em cartas às quartas e quintas no Teatro Eva Herz.
Tereza Freire adaptou a própria dissertação de mestrado sobre Patrícia Galvão, a Pagu, mas não há rastro de academicismo. A linguagem narrativa coloca Pagu (em excelente composição de Renata Zanetha) a recordar fatos marcantes de sua vida – sua adolescência incomum (fumava, relacionou-se, inclusive sexualmente, com um homem mais velho e casado.); sua ligação com o Movimento Antropofágico criado por Oswald de Andrade, com quem se casou e foi mãe de Rudá, seu primeiro filho; sua militância que a levou a distanciar-se do crescimento de Rudá; sua decepção com a militância política; o retorno à vida doméstica participando, mais ativamente, da criação de Geraldo Galvão Ferraz, seu filho com Geraldo Ferraz (seu segundo marido), e à Santos onde é destacável sua ajuda aos grupos teatrais amadores.
Roberto Lage, quem assina a direção e a produção do espetáculo, valorizou a contenção em lugar de invencionices de encenação. Acerta, inclusive, na escolha do Teatro Eva Herz, com seus 166 lugares, dando o desejável toque intimista ao espetáculo.
O cenário (Heron Medeiros), figurino (Gilda Bandeira de Mello), trilha sonora (Aline Meyer) e iluminação (Wagner Freire) são, também, sustentado pela discrição, dando a dicotomia da sofistificação versus simplicidade, marcas da vida da personagem.

A força de “Dos Escombros de Pagu”, no entanto, repousa no domínio de seus instrumentos – dicção, ritmo, expressividade corporal – da atriz Renata Zanetha, dona de indubitável carisma.
Um dos pontos mais interessantes da trama está no momento em que Pagu questiona se os sacrifícios a que se submeteu pela “causa” (Partido Comunista) valeram à pena.
Creio ser importante refletir sobre o quanto somos fundamentalistas em defender quaisquer posturas política que, mesmo parecendo ser sólidas, desmancham-se no ar.
“Dos Escombros de Pagu”
Teatro Eva Herz (166 lugares)
Avenida Paulista, 2.073 – Conjunto Nacional/ Livraria Cultura
Informações: (11) 3170-4059 –www.teatroevaherz.com.br
Bilheteria: Terça a sábado, das 14h às 21h. Domingo, das 12h às 19h. Em feriado, sujeito à alteração. Aceita todos os cartões de crédito. Não aceita cheque.
Vendas pela internet: www.ingresso.com
Vendas por telefone: 4003-2330
Quarta e quinta, às 21h
Ingressos: R$ 30
Duração: 70 minutos
Gênero: Drama
Classificação Etária: 14 anos
Temporada: até 18 de novembro