
Maurício Mellone, para o site Favo do Mellone, parceiro do Aplauso Brasil
Peça de Nichy Silver e dirigida por Felipe Hirsch chega a São Paulo trazendo na bagagem três prêmios Shell: os atores Nanini e Mariana Lima, além do cenário de Daniela Thomas
Com temporada até final de maio no Teatro FAAP, Pterodátilos reafirma o sucesso carioca: as sessões estão com ingressos esgotados e a lista de espera é grande!
Nada mal para Marco Nanini, que comemora seus 45 anos de carreira e vê reconhecido seu trabalho pelo público e pela crítica. Nessa peça de Nicky Silver, o ator vive tanto o pai como a filha e foi agraciado como melhor ator na versão carioca do Prêmio Shell de Teatro desse ano. Sua companheira de palco, Mariana Lima, também foi escolhida a melhor atriz, a diretora de arte e cenógrafa Daniela Thomas também recebeu a premiação.
Para festejar a data, Nanini resolveu remontar Pterodátilos, encenada em 2002. Dessa vez, no entanto, o diretor Felipe Hirsch incluiu extratos de outras obras do autor e a montagem está mais solta: ‘‘Sempre ficou na cabeça da gente remontar esse texto, porque tem humor, diálogos incríveis e precisos, além de uma dramaticidade sem pieguice. Na primeira vez, por conta das circunstâncias, a peça ganhou uma impostação mais grandiosa. Queríamos repeti-la de uma forma mais próxima da plateia”, conta o ator.

Próxima e por isso mesmo provocadora. O grupo familiar retratado por Silver encontra-se completamente desestruturado. A citação ao final do espetáculo de que a espécie humana pode ser como os pterodátilos, pássaros da pré-história que viveram muito mas desapareceram sem deixar vestígios, é no mínimo aterrorizante. Será que chegaremos a desaparecer? Se a total falta de afeto e amor, além de os valores e princípios humanos forem como os retratados pela família mostrada no palco, o Homem não sobreviverá!
O pai, um banqueiro frio, egocêntrico e ausente, que desconhece sua prole; a mãe fútil, consumista, bêbada, infiel, pedófila, incestuosa e promíscua; o primogênito volta para casa depois de contrair o vírus da Aids e de uma vida depravada e inútil; e a filha, por descuido dos pais, traz mazelas da infância e se espelha na mãe alcoólatra. Para completar o quadro dessa família disfuncional rumo à extinção, há ainda o noivo da garota que é contratado como empregada doméstica e se apaixona e vive um caso de amor com o irmão de sua noiva.
O prêmio de Daniela Thomas para o seu cenário é mais do que merecido. Desde o início o público se depara com a sala da família em posição inclinada: assim que as cenas acontecem e a desestruturação familiar é mostrada, o palco começa a se movimentar e ficar também em desequilíbrio. O filho começa a escavar o sub-solo da casa em busca de dinossauros e retira o assoalho, até que todo o chão desaparece. Um chão físico e ao mesmo tempo emocional. Saí do espetáculo com a sensação de ter levado um soco na boca do estômago, fiquei completamente sem o chão, como o retirado no palco!
Direção impecável e de perfeito entrosamento com a equipe — Felipe trabalhou com Nanini em Os Solitários, de Nicky Silver, em 2002, e em A Morte de um Caixeiro Viajante, de Arthur Miller, em 2003 —, Pterodátilos merece todo o sucesso graças à brilhante atuação de Marco Nanini e Mariana Lima. Álamo Facó como o filho e Felipe Abib como o noivo também completam um elenco coeso e envolvente.
Pterodátilos.Texto de Nicky Silver; direção: Felipe Hirsch; com Marco Nanini, Mariana Lima, Álamo Facó e Felipe Abib. Cenografia e direção de arte: Daniela Thomas; figurinos: Antonio Guedes; iluminação: Beto Bruel; produção: Fernando Libonati.
Serviço: Teatro Faap (Rua Alagoas, 903, tel: 3662-7233 e 3662-7234). Temporada de 18 de março a 29 maio. Sextas, às 21h30. Sábados, às 21h. Domingos, às 18h. Ingressos: R$ 60 (sex) e R$ 80 (sáb/dom). Duração: 80 minutos. Classificação etária: 16 anos. Bilheteria: de quarta a domingo, das 14h até o início do espetáculo.