Maurício Mellone * (redacao@aplausobrasil.com.br)

SÃO PAULO – O grupo carioca companhia aberta, formada por três mineiros — Daniel Carvalho Faria, Davi de Carvalho e Vandré Silveira — termina neste final de semana a temporada da peça de Bernard Pomerance, O Homem Elefante, com direção de Cibele Forjaz e Wagner Antônio até segunda (3), no Centro Compartilhado de Criação (CCC).
A trama é baseada na história real de Joseph Merrick, um jovem que viveu em Londres, na metade do século XIX, e que era portador de uma terrível deformação física, daí ser conhecido como homem elefante. Abandonado pela madrasta num abrigo de crianças, Joseph passou a ganhar a vida vendendo bugigangas nas ruas até trabalhar num circo, em shows de aberrações. Posteriormente, Joseph foi resgatado pelo jovem médico Frederick Treves, que o acolheu num prestigiado hospital londrino. A peça de Pomerance foi montada com sucesso nos anos 1980 na Broadway, ganhou versão para o cinema pelas mãos de David Lynch e em 1981 foi dirigida no Brasil por Paulo Autran, tendo no elenco Antonio Fagundes e Ewerton de Castro.
Os espectadores são convidados a entrar e, ao dar início, todos percebem que representam as plateias do circo de horrores onde Joseph Merrick — em interpretação impactante de Vandré Silveira — se apresentava. Os diretores criam um grande mistério para a primeira aparição de Merrick, muito em função da aversão que todos tinham ao se deparar com o jovem cidadão britânico do século XIX. Será que não é o mesmo que acontece até hoje, com a dificuldade das pessoas em saber lidar com o diferente, com aquilo que não é tido como ‘normal’?

A trama mostra toda a trajetória de vida de Merrick (que viveu só até os 27 anos), desde os shows em Londres, a frustrada estadia na Bélgica onde foi assaltado por seu empresário Ross, interpretado por Daniel Carvalho Faria, seu regresso a Londres e o resgate ao hospital em que Dr Treves (Davi de Carvalho) o acolheu, até seu encontro com a atriz Kendal, vivida por Regina França. No programa da peça os atores da companhia aberta dizem eles são “quatro elefantes sonhando juntos para contar esta metáfora do mundo deformado em que vivemos”.
Com uma produção enxuta e poucos elementos cênicos, a direção dá ênfase à composição do personagem central: se a princípio a caracterização da anormalidade física de Merrick é evidenciada, com o desenrolar da trama o público passa a conhecer o ser humano que habita aquele corpo deformado e a cena final causa grande impacto, com o ator literalmente despido de qualquer recurso ou truque cenográfico. A empatia e identificação são imediatas: Merrick sempre quis ser um “homem como os outros”. Sem dúvida, O Homem Elefante é um dos grandes destaques do ano.
* Maurício Mellone publicou o texto no www.favodomellone.com.br – parceiro do Aplauso Brasil
Roteiro:
O Homem Elefante. Texto: Bernard Pomerance. Encenação: Cibele Forjaz e Wagner Antônio. Elenco: Daniel Carvalho Faria, Davi de Carvalho, Regina França e Vandré Silveira. Iluminação: Wagner Antônio. Cenário: Aurora dos Campos. Figurino: Valentina Soares. Direção musical e trilha sonora: Dr Morris. Fotografia: Rodrigo Castro. Realização: companhia aberta.
Serviço:
Centro Compartilhado de Criação (60 lugares), Rua James Holland, 57, tel. 11 3392-7485. Horários: quinta, sexta, sábado e segundas às 21h e domingo às 20h (este sábado 18h e 21h). Ingressos: R$ 20 e R$ 10. Vendas na bilheteria do teatro ou pelo www.ingressorapido.com.br. Classificação: 16 anos. Duração: 100 min. Temporada: até 3 de outubro.