SÃO PAULO – A Porta da Frente comédia ácida de Julia Spadaccini, em 2013, venceu os prêmios Fita e Shell-Rio, ganhando nova montagem no Teatro Renaissance neste ano. A peça retrata uma família trivialmente diferente – qual família não possui suas similitudes e diferenças? Quem é igual? E quem é diferente? -, Rui (Roney Facchin) é a figura patriarcal, um homem muito seguro em suas inseguranças.
Trabalha como corretor de imóveis, concorre a vaga de síndico, e tem uma família que, evidentemente, é ‘’normal’’: Um casal de filhos, adolescentes gêmeos, Natália (Greta Antoine) e Jonas (Bruno Sigrist), que possuem os múltiplos problemas que a adolescência causa e permite, nas inúmeras buscas, nesse momento da vida.
Sua mulher, Lenita (Sandra Pêra), cansada do marido que não realiza mais os desejos que imaginou fica carente. Sem muitas emoções, procura e conhece um homem em um site de relacionamentos. Ambos conversam todos os dias e, desta forma, o amor platônico começa a ficar cada vez mais forte, a carência e expectativa duplamente são ‘’resolvidas’’. Os motivos para esse fato acontecer é que, essa e aquele, não conhecem a fisionomia de ambos.
Comunicam-se por áudio ou por texto, e cada um utiliza um avatar no lugar de foto, dando asas à imaginação de que exista alguém perfeito, exatamente nos moldes que a fantasia idealizou.
Em uma conversa, por exemplo, Lenita diz não querer mostrar suas partes negativas e ligeiramente o rapaz responde que ‘’seria impossível ela ter um lado negativo’’, negando tal possibilidade. A sogra de Rui, Marilu (Miriam Mehler), por sofrer de Alzheimer, (será que sofre mesmo?) repete, sempre, frases ideais para a reflexão da família. O que não acaba acontecendo, e sem, também, o uso dessas meditações, peculiaridades acontecem.
Os problemas (incompreendidos) dessa família ficam pequenos demais quando, Marilu anuncia não compreender se o novo morador do condomínio, vizinho deles, é um rapaz ou uma moça.
Sasha (Fabiano Medeiros), é um Crossdresser – definição de homem que se veste com roupas femininas e é de orientação heterossexual-, trabalha como professor de canto. Como imaginado, o rapaz torna-se o grande drama da história, pois a esposa de Ruy não admite que more alguém, tão diferente dela, do que conhece ou julga ser certo, exatamente ao lado de seu apartamento. Os motivos para tentativa de extermínio de Sasha, logo, são inúmeros, destacando-se dois ; Pelo péssimo exemplo aos filhos, e, pelo som que o novo vizinho emite, perturbando-a. Como o segundo motivo é mais pertinente, faz, portanto, de tudo para que seu marido dê um jeito na situação, destacando a forma que um ‘’homem de verdade’’ deve fazê-lo.
Os encontros e desencontros subsequentes desencadeia em um dos temas mais importantes da atualidade: comunicação. Refletir sobre a nossa quase incapacidade de comunicar nossos significantes aos outros é imprescindível para pensarmos que, sempre haverá possibilidades de compreensão, porém, em muitos momentos, essas, estarão distantes do nosso entendimento.
Considero o tema abordado um dos mais importantes de toda a história da humanidade, e destaco nossa contemporaneidade que, pela facilidade de obter informações, não nos dá tempo de supormos se de fato compreendemos ou não o que o outro quis dizer.
Você já parou para pensar que todos os seus inimigos ou pessoas que você não gosta, confrontos – o que não podemos confundir com conflito -, trava múltiplas possibilidades que você supostamente poderia ter vivido? E que todas as guerras da história são provenientes da quase impossível capacidade que temos de compreender/aprender, tentar entender o lugar e pensamento do outro? Se alguém diz algo que você não gosta, existe uma pausa para refletir que o outro sempre tem os seus motivos, e que isso ocorre por uma construção vitalmente pessoal? Como pode haver tanta certeza que o que você pensa é o mais coerente possível?
O problema da comunicação causou todos os confrontos da história e de todas as relações que temos. A contemporaneidade permeada de informações instantâneas dificulta tanta reflexão. E agora? Onde iremos parar? Por que sempre o outro é a vilania? Seriamos tudo o que somos sem o contato com o diferente? Se todos pensassem igual, existiria pensamento?
A Porta está na sua frente, basta você entrar e conhecer as múltiplas camadas do pensamento humano.
Todo Sábados às 19h e Domingos às 20h, até 09/09, A Porta da Frente estará aberta, te esperando em um forte e emocionante espetáculo dirigido esmeradamente por Marcelo Várzea.
Pensar a comunicação pode mudar a vida. E como a reflexão é livre, fique à vontade, entre e descubra.
Ficha Técnica
Texto: Julia Spadaccini
Direção: Marcelo Varzea
Elenco: Sandra Pêra, Roney Facchini, Fabiano Medeiros, Greta Antoine e Bruno Sigrist
Participação Especial: Miriam Mehler
Assistente de Direção: Tadeu Freitas
Direção de Movimento: Érica Rodrigues
Figurino e Visagismo: Leopoldo Pacheco
Cenário: Camila Schmidt
Trilha Sonora e Projeção: André Hã
Iluminadores Associados: César Pivetti e Vânia Jaconis
Produtora de Figurino: Lídia Storino
Vídeo Mapping: Tuba
Assistente de Iluminação: Greta Liz
Designer Gráfico: Daniel Maia
Fotografo: Caio Galucci
Assessoria de Imprensa: Beth Gallo, Dani Bustos e Thais Peres – Morente Forte
Assistente de Produção: Bárbara Santos
Assistente Administrativa: Alceni Braz
Produtora Executiva e Administrativa: Francine Storino
Direção de Produção: Selma Morente e Célia Forte
Realização: Morente Forte Produções Culturais
Serviço
A PORTA DA FRENTE
Teatro Renaissance (440 lugares)
Alameda Santos, 2233
Informações: 3069.2286
Bilheteria: Quinta, das 14h às 20h. Sexta a domingo das 14h até o início do último espetáculo. Pagamento em dinheiro e cartões.
Vendas: www.ingressorapido.com.br
Sábados às 19h e Domingos às 20h
Ingressos:
Sábado R$ 80 | Domingo R$ 70
Duração: 80 minutos
Recomendação: 12 anos
Gênero: comédia ácida
Estreou dia 07 de Julho de 2018
Temporada: até 09 de Setembro

Vitor Fadul, especial para o Aplauso Brasil (redacao@aplausobrasil.com.br)