Maurício Mellone * (redacao@aplausobrasil.com.br)

SÃO PAULO – A dupla carioca Charles Möeller & Claudio Botelho, famosa por seus musicais de sucesso, traz ao teatro a versão do clássico do cinema O que terá acontecido a Baby Jane (What ever happened to Baby Jane?), dirigido em 1962 por Robert Aldrich, baseado no livro homônimo de Henry Farrell, que o adaptou para o teatro. Para esta versão, Eva Wilma e Nicette Bruno vivem os papéis interpretados por Bette Davis e Joan Crawford em Hollywood. A trama disseca a vida das duas irmãs, que em momentos distintos fizeram sucesso no cinema: Jane Hudson (Eva) na infância foi uma a garota prodígio, mas não conseguiu manter o brilho e o sucesso; já Blanche Hudson (Nicette) assumiu o posto da irmã e se tornou uma grande diva, até que um inexplicável acidente a deixou presa a uma cadeira de rodas e interrompeu a carreira de ambas. A peça começa com elas enclausuradas numa velha mansão, vivendo de memórias, mágoas, ressentimentos e uma eterna rivalidade.
A montagem intercala o momento atual, em que as duas irmãs se encontram velhas e decadentes, com a memória de ambas quando viveram o auge nos palcos e nas telas. Para isto Jane e Blanche são interpretadas respectivamente pelas atrizes Sophia Valverde e Duda Matte, na infância, e por Rachel Rennhack e Juliana Rolim na juventude. Licurgo Spínola dá vida tanto ao pai das meninas como ao diretor de cinema. A trama faz este vai e vem — do presente para o passado — e aos poucos o espectador vai tendo a noção da personalidade de cada uma das personagens e o que motivou o atual estágio da vida delas; a pergunta do título da peça é respondida com a cena final, em que há o embate entre as irmãs e todas as máscaras caem, com a verdade vindo à tona.
“Além da rivalidade entre as irmãs e todas as questões que passam por este tema, a peça também é sobre o embate entre o teatro de vaudeville e o cinema. A convivência entre os gêneros durou até o cinema se tornar falado, o que levou ao fim do vaudeville”, analisa Charles Möeller.

Ter a chance de assistir a performance de duas grandes atrizes brasileiras, que já cruzaram a barreira dos 80 anos, é a maior atração do espetáculo. Eva Wilma e Nicette Bruno têm a oportunidade de interpretar personagens de uma riqueza interior, com nuances de personalidade que surpreendem o espectador ao final.
Pela própria estrutura da montagem, senti falta de cenas em que as duas irmãs pudessem contracenar por mais tempo (há vários cortes e interrupções com as mudanças de épocas), o que daria ênfase ao talento das veteranas atrizes. Mesmo assim, a importância do desfecho se dá graças ao vigor de Nicette e Eva em cena. Destaque ainda para a cenografia de Rogério Falcão, que vai se desfazendo com o desenrolar da trama, e a iluminação de Paulo César Medeiros.
* Maurício Mellone publicou o texto no www.favodomellone.com.br – parceiro do Aplauso Brasil
Roteiro:
O que terá acontecido a Baby Jane. Texto: Henry Farel. Adaptação: Charles Möller. Tradução: Claudio Botelho. Direção: Charles Möller e Claudio Botelho. Elenco: Eva Wilma, Nicette Bruno, Licurgo Spínola, Nedira Campos, Teca Pereira, Rachel Rennhack, Juliana Rolim e as crianças Sophia Valverde e Duda Matte. Cenografia: Rogério Falcão. Figurinos: Carol Lobato. Iluminação: Paulo César Medeiros. Visagismo: Beto Carramanhos. Design de som: Ademir Moraes Jr. Fotografia: Marcos Mesquita. Produção executiva: Edson Lopes. Realização: Möller& Botelho.
Serviço:
Teatro Porto Seguro (508 lugares), Al. Barão de Piracicaba, 740, tel. 11 3226.7300. Horários: sexta e sábado às 21h e domingo às 19h. Ingressos: R$ 120 (plateia) e R$ 90 (balcão). Bilheteria: terça a sábado das 13h às 21h e domingos, das 12h às 19h. Estacionamento no local. Serviço de vans: transporte gratuito da Estação Luz, na saída Rua José Paulino/ Praça da Luz/Pinacoteca, vans personalizadas passam em frente ao local indicado para pegar os espectadores. Duração: 90 minutos. Classificação: 14 anos. Temporada: até 30 de outubro.