Michel Fernandes, do Aplauso Brasil (michel@aplausobrasil.com)

SÃO PAULO – Só os poetas conseguem verter em imagens pensamentos, sensações, enfim, fragmentos da vida. Poucos conseguem entrelaçar delicadeza, paixão e imagens-ideias plenas de diálogos que abordam as relações entre o espaço urbano que ocupa como o faz Davi Kinski em Corpo Partido (São Paulo, 2014, Editora Patuá).

À começar pela capa com seu belíssimo projeto gráfico, assinado pelo artista plástico Leonardo Mathias, e o poema que ocupa a contracapa revela uma inteligente e sutil relação entre o tema, “O que move dentro de ti é seco/ Áspero”, e a forma com que ele é desenhado: frases-imagens estanques, a cidade sentida pelo corpo (“Sorrisos portáteis?…/ Nessa cidade sem horizonte), são índices a despertar nossa curiosidade e mergulhar na leitura desses poemas-vida.
Nas 110 páginas repletas de sensações forjadas com visceral pungência – sim , é preciso respirar e reler para desvendar novas camadas pois elas abalm nossos sentimentos – em que a cidade entra sorrateira – expressões como “beco”, “esquina”, “No meio da Paulista serei feliz…”, entre outras – e sempre partícipe da construções das imagens poéticas.
Por essas e outras, recomendo você a se entregar à Corpo Partido.