Nanda Rovere, especial para o Aplauso Brasil (aplausobrasil@aplausobrasil.com)

SÃO PAULO – O diretor William Pereira apresenta a sua versão do clássico Dom Juan, de Molière. O espetáculo que tem o ator Rodrigo Lombardi como protagonista, estreia hoje no Teatro Raul Cortez. Completam o elenco os atores Eduardo Estrela, Clarissa Kiste, Davi Taiu, Eduardo Leão, Mariana Melgaço, Mario Luiz e Roberto Arduim. O professor Jorge Coli assina a tradução do texto, escrito no século XVII, e respeita a métrica poética da obra original.
Dom Juan é um sedutor e o seu objetivo é viver intensamente para tudo aquilo que lhe dá prazer, independente dos riscos e das formas com que o conquista.
A peça apresenta uma crítica voraz às máscaras que a sociedade utiliza para esconder suas condutas amorais. Segundo o ator Rodrigo Lombardi, nesta peça, Molière fala sobre a hipocrisia e retrata três tipos de solidão: a amorosa, social e existencial.
O ator cita uma frase que exemplifica a crítica social presente na obra: “A hipocrisia é um vício que está na moda e todos os vícios que estão na moda se transformam em virtudes”.
As relações atualmente se rompem facilmente e Dom Juan suscita reflexões sobre o amor, o casamento, a ética, as relações humanas, entre diversas outras questões. Dom Juan é um herói libertário e egoísta. Aos poucos vai se relando um indivíduo vazio. Tem diversas facetas e o autor oferece elementos para que cada espectador forme a sua ideia sobre o personagem.
“Não é um discurso frívolo e sim apresenta coerência nas palavras. Vem com uma provocação pulsante”, define Eduardo Estrela. “O segredo é não ter medo de encarar os clássicos e perceber a musicalidade presente nos diálogos”, completa.
Dom Juan é um nobre que por ter tudo em suas mãos não tem limites. A atriz Clarissa Kiste, que interpreta Dona Elvira, salienta que no decorrer da peça, Molière mostra as consequências desses atos libertinos.
“O discurso de Dom Juan é questionável na medida em que afeta a vida de outras pessoas negativamente”, afirma a atriz.
A peça tem conquistado o interesse de estudiosos através dos tempos. Tem muitos estudos de psicanálise que tentam entender o comportamento de Dom Juan e a obra, vale a pena frisar, foi criada muito antes do surgimento de psicanalistas como Freud e Jung.

Textos clássicos são difíceis de montar porque têm um alto custo de produção, entre outras coisas pela grande quantidade de atores em cena e profundidade do texto.
Na opinião de Rodrigo Lombardi,amaior dificuldade é encontrar capacitados devido ao pouco preparo para encenar um clássico:
“Mas depois que percebemos a dinâmica do texto e o falamos com propriedade, tudo fica mais fácil”, diz.
Para o ator, num mundo sem paciência, o clássico oferece poesia e imagens preciosas. O stress não tem lugar. Através do clássico é possível aprender, curtir e se apaixonar pelas palavras que são ditas. Nesse tipo de espetáculo.
“Não sei se há público interessados nos clássicos, mas o nosso papel e formar público”, diz o ator.
O objetivo dessa montagem é mostrar um caminho para o público se interessar pelos clássicos. Além disso, a peça suscita reflexões pertinentes sobre o homem na atualidade.
“O público terá a oportunidade de entrar em contato com uma humanidade que perpassa os séculos e verificar que os personagens refletem a realidade de cada um de nós”, diz Lombardi.
“Dom Juan é um banquete em que a plateia vai sair feliz e satisfeito”, complementa Eduardo Estrela.
O projeto teve início a partir de uma leitura realizada na Caixa Cultural, que contou com a direção de William Pereira e a participação do ator Eduardo Estrela, que destaca a beleza do texto.
Aos poucos o elenco foi formado e o nome de Rodrigo Lombardi surgiu devido ao seu talento, carisma, beleza para viver o personagem, bem como pelo seu reconhecimento na TV.
O último trabalho de Rodrigo nos palcos foi em A Grande Volta, ao lado de Fúlvio Stefanini. Assim que foi convidado, Rodrigo relutou porque planejava descansar, se dedicar ao filho pequeno e estudar após o final de O Astro. A vontade de fazer um clássico e a saudade do teatro, no entanto, “falou mais alto”.
“Rodrigo é um homem de teatro. Comprometido. As expectativas foram superadas quanto à sua interpretação”, elogia Eduardo Estrela.
Os ensaios começaram em janeiro e devido ao pouco tempo para a finalização da montagem, a dedicação acontece nos palcos e fora dele, o que gerou uma visível integração entre os atores.
Para a criação do espetáculo o elenco assistiu a filmes sobre a vida de Dom Juan e contou com explicações históricas de Jorge Coli, que deu subsídios para um melhor entendimento sobre o século XVII.
Também foi feito um intenso treinamento de técnicas para manusear espadas.O desenho das coreografias foi responsabilidade de Mario Luiz, com a colaboração do Instituto Stanislavski.
O diretor Willian Pereira criou uma encenação que mescla elementos clássicos e modernos. Não ficou preso à época e trouxe ao espetáculo elementos modernos.
“É uma encenação contemporânea de um clássico, sem descaracterizar os personagens, sem forçar uma proximidade na atualização e longe de um humor farsesco, pois o pior caminho no teatro é o da facilidade”, considera William Pereira.
Há poucos elementos cênicos. Objetos, como candelabros, perucas e espadas, e figurinos remetem o público ao séc. XVII, mas não há a preocupação com a fidelidade à época. O objetivo é mostrar ruídos, fios, que ligam a história ao mundo contemporâneo. Há muitos elementos que podem parecer atuais ao espectador, mas que são milenares, e objetos mais modernos como as lingeries que são usadas pelas atrizes em algumas cenas.
Foram realizados ensaios abertos e a receptividade foi muito boa. O espetáculo tem 2h30, mas segundo o ator Davi Taiu, o público, formado por jovens, não sentiu o tempo passar porque á quantidade de informação é muito grande. A temporada vai até 16 de junho.
PERSONAGENS:
Rodrigo Lombardi – Dom Juan
Eduardo Estrela – Esganarelo – fiel criado de Dom Juan, que para manter o seu emprego aceita é bastante condizente com a devassidão de Dom Juan, mas tenta salvá-lo.
Clarissa Kiste – Dona Elvira – Mulher que vivia no convento e abandona a carreira religiosa por Dom Juan. É largada no altar. Além de outras personagens menores.
Davi Taiu – Dom Carlos – irmão de Dna. Elvira, que vai até Dom Juan para cobrá-lo pela honra de sua irmã.
Eduardo Leão – Gusmão – criado de Dna . Elvira e Dom Alonso, irmão de Elvira.
Mariana Melgaço – Carlota – camponesa, que tem uma relação com Pedroca e que muda a sua vida após se relacionar com Dom Juan. Também faz outros personagens pontuais.
Mario Luiz– Pedroca – apaixonado pela Carlota e seu Domingos, burguês que vem cobrar Dom Juan de suas dívidas.
Roberto Arduim – pai de Dom Juan. Tenta autoridade, mas é enganado pelo filho. Também interpreta personagens no decorrer da apresentação.
Ficha Técnica:
Texto: Molière
Tradução: Jorge Coli
Direção: William Pereira
Diretora assistente:Angela Barros
Elenco:
Rodrigo Lombardi
Eduardo Estrela
Clarissa Kiste
Davi Taiu
Eduardo Leão
Mariana Melgaço
Mario Luiz
Roberto Arduim
Iluminação: Domingos Quintiliano
Cenografia e trilha sonora: William Pereira
Assistente de cenografia e diretor de palco: Domingos Varela
Figurino:Olintho Malaquias
Fotografia:Lenise Pinheiro
Produção Executiva: Flavia Nucci
Assistente de Produção: Letícia de Bertolli
Direção de Produção: Dani Angelotti
Realização: Cubo Entretenimento
Serviço:
DOM JUAN
Teatro Raul Cortez(520 lugares)
Rua Doutor Plínio Barreto, 285 – Bela Vista. São Paulo/SP
Informações: 11 3254.1631
Vendas pela Internet: www.ingressorapido.com.br e telefone: 4003-1212
Bilheteria: de terça a quinta, das 14h às 20h. Sexta a Domingo, das 14h até início do espetáculo.
Aceita todos os cartões de débito, crédito ou dinheiro. Estacionamento no local R$ 17.
Sexta, às 21h30. Sábado, às 21h. Domingo, às 19h.
Ingressos: Sexta e Domingo R$ 60. Sábado R$ 70
Classificação etária: 14 anos
Duração: 140 minutos, com intervalo
Estreia dia 30 de março
Temporada: até 16 de junho