Kyra Piscitelli, do Aplauso Brasil (kyra@aplausobrasil.com)

SÃO PAULO – Por 78h a Praça Roosevelt e as imediações pararam para vivenciar arte e cultura. O Festival Satyrianas reuniu 50 mil pessoas, segundo a organização. O evento que aconteceu no final de semana prolongado do feriado de 15/11 se consagra, na 14º edição, como um reflexo do que acontece e permeia a cidade. A prova disso, é que as atrações traziam muitas referências aos protestos de junho. As AutoPeças, que propunham uma encenação com carros foram outro destaque. E São Paulo é o lugar dos carros, não é?
Nas Satyrianas muito projeto novo ganha espaço e divide a cena com alguns consagrados. Entre os sucessos em cartaz, os espetáculos Édipo na Praça, da Cia Os Satyros – criadores do evento – A Casa da Bernarda Alba e Bala na Agulha entraram na proposta do Festival do “pague o quanto puder”.
Mas entre as novidades apresentadas nas Satyrianas, vale destacar duas atrações: os espetáculos Hallo Facers e O Melhor Ainda está Por Vir. Os dois traduzem o espírito que consolidou o evento por representar o espírito de uma cidade cosmopolita, linda, contraditória e diversificada como São Paulo.
Hallo Facers
Foi parte do projeto Diálogos, idealizado por Ruy Filho. A partir do texto do ator e diretor Otávio Martins, Ruy conseguiu trazer para o palco uma reflexão interessante, bem-humorada e necessária sobre redes sociais, ativismo e manifestações. Um debate mesmo, como propõe Diálogos, que pela quarta vez fez parte das Satyrianas.
Não foi incomum encontrar durante as Satyrianas referências aos protestos de junho. Afinal, essa foi o assunto do ano. Mas, muitas delas exploravam o terreno comum, óbvio e as mesmas piadas.
A montagem de Hallo Facers se destaca das demais pela estética, forma como se apresenta e até da forma inusitada, que poderia até ser comum, de trazer para o palco a discussão na linguagem da internet.
Os espectadores ficavam de pé junto com os atores Ana Carolina Martinho, Breno da Matta, Guilherme Gorski, Johnnas Oliva e Maria Morena. Todos juntos no placo como se acompanhassem conversas no facebook sobre as manifestações de junho. No texto, em meio a gírias típicas da internet, são postas ideologias, opiniões e até referências a fotos postadas durante as manifestações. Piadas como a busca por vidas no jogo Candy Crush dão um toque de leveza e graça para o espetáculo.
O Melhor Ainda está Por Vir
A peça fez parte do projeto AutoPeças, na Satyrianas. A ideia de usar um “carro” pareceu forçada e até desnecessária em alguns textos e performances que passaram pela praça. Mas, O Melhor Ainda está Por Vir conseguiu usar bem o carro – que ali sim tinha um propósito.
Na história, os personagens recém-casados saem da cerimônia para uma sessão de fotos. No banco de trás, o público (de até três pessoas) acompanham e descobrem fatos inconfessáveis desse jovem casal. No carro, os convidados VIPs se veem em uma situação em que todos já vivenciaram, viram ou viverão um dia.
O carro anda mesmo. Não fica parado. O destino é a Avenida Paulista, onde acontece o final da história. É interessante acompanhar essa história, e melhor ainda é a cara de espanto das pessoas quando veem uma noiva no coração de São Paulo.
Com direção de Kiko Rieser, o espetáculo teve no elenco Paula Cohen – eleita musa das Satyrianas 2013 -, Daniel Faleiros e José Roberto Jardim.
O carro é um elemento que roubou a cara de São Paulo, está em todo lugar e trazê-lo para a cena é importante. Senão como protesto, como aliado. E é isso que faz O Melhor Ainda está Por Vir. O espetáculo é caótico, divertido e passa por pontos importantes de São Paulo.
Aqui o desejo de que essas duas montagens tenham asas para além das Satyrianas.