Maurício Mellone, para o site Favo do Mellone parceiro do Aplauso Brasil (aplausobrasil@aplausobrasil.com)

Com entrada franca, peça é o resultado de pesquisa dos atores e da direção sendo o livro “Devassos no Paraíso – A homossexualidade no Brasil, da Colônia à Atualidade”, de João Silvério Trevisan, ponto de partida do espetáculo.
Para que a magia do teatro aconteça basta que haja o ator que irá contar uma história e alguém para ouvi-la. Este é o caminho mais simples e, por isso mesmo, talvez o mais difícil! No entanto, o que se vê hoje em dia é o uso, às vezes exagerado, da parafernália tecnológica existente para cenário, iluminação, trilha sonora e figurino. O essencial do teatro — o ator trocando energia diante da platéia — é posto em segundo plano.
Mas em “Dizer e Não Pedir Segredo”, o simples é a tônica! Numa composição coletiva entre os atores e a direção do grupo Teatro Kunyn, a peça é o resultado de uma longa pesquisa cujo objetivo era refletir sobre a homossexualidade no Brasil, “de tentar entender o que seria a construção de uma identidade gay em paralelo à construção de uma identidade brasileira”, segundo Luiz Fernando Marques, que assina a direção. O livro “Devassos no Paraíso – A homossexualidade no Brasil, da Colônia à Atualidade”, de João Silvério Trevisan, foi o ponto de partida da montagem.
E o simples é levado ao pé da letra: tudo acontece numa sala de um apartamento, onde a platéia bem reduzida (20 pessoas), entra pelo elevador do edifício e ao chegar à sala, escolhe onde sentar e é convidada a pegar um dos adereços que servirá para que os atores (Luiz Gustavo Jahjah, Paulo Arcuri e Ronaldo Serruya) desenvolvam as histórias.

Além dessa forma inovadora e aconchegante (os atores recepcionam o público oferecendo água, refrigerante e guloseimas), quando é iniciado o espetáculo as histórias relatadas são impactantes.
Como o objetivo é mostrar a vida gay no Brasil, desde o descobrimento até os nossos dias, os atores lêem cartas reveladoras, como a famosa de Pero Vaz de Caminhas anunciando a terra “onde tudo o que se planta dá” e em que os habitantes viviam nus, até a carta emocionada do escritor Caio Fernando Abreu, em que ele conta estar contaminado com o HIV.
Os relatos não seguem uma cronologia, os tempos ficam embaralhados com o objetivo de se ter um olhar sobre o desejo.
A cumplicidade da plateia é total, não só com a interação dos objetos de cena e figurino, mas principalmente com pequenos depoimentos que são dados numa cena emocionante: os atores amarram todas as histórias e perguntam como cada um vivia com o menino ou a menina que carregava nas costas aos 15, 18, 27, 34, 56 ou 81 anos! O programa da peça termina dizendo que os espectadores, ao escolher os assentos e adereços, compõem o ambiente de estar. “E assim, assumindo a responsabilidade por nossas escolhas, todos nós revelamos aquilo que somos. Nas nossas ricas diferenças”.
“Dizer e Não Pedir Segredo” estreia nessa sexta (12), na Rua Bela Cintra 619 – Apto 72 e a temporada se estende até 4 de dezembro, com apresentações sextas e sábados, sempre às 21h. Detalhe importante: o ingresso é gratuito e a lotação é de 20 pessoas, mas somente com reservas antecipadas (Reserva pelo tel. 8564. 4248).
“Dizer e Não Pedir Segredo” – Estreia dia 12 de novembro, às 21 horas, na Rua Bela Cintra 619 – Apto 72 – Consolação (Esquina com a Rua Fernando de Albuquerque). Criação, pesquisa e dramaturgia: Ivan Kraut, Luis Gustavo Jahjah, Luiz Fernando Marques, Paulo Arcuri e Ronaldo Serruya. Direção: Luiz Fernando Marques. Elenco: Luiz Gustavo Jahjah, Paulo Arcuri, Ronaldo Serruya. Assistência de direção: Daniel Viana. Iluminação: Wagner Antônio. Figurinos e adereços: Ligia Yamaguti. Fotografia: Adalberto Lima.
Temporada: De 12 de novembro de 2010 a 04 de dezembro de 2010. Horários: Sextas e sábados às 21h. Local: Rua Bela Cintra 619 – Apto 72 – Consolação (Esquina com a Rua Fernando de Albuquerque). Lotação: 20 pessoas. Ingressos: Apenas com reservas antecipadas. Reservas e Informações: 11 8564. 4248. Entrada Franca.