Michel Fernandes*, do Aplauso Brasil (Michel@aplausobrasil.com.br)

COTIA – Em uma das suas palestras, a dramaturga Renata Pallottini disse que um dos caminhos a ser seguido pela dramaturgia residia no diálogo com o espaço em que se realizava o fato cênico. Apontamentos da quebra do espaço da cena servem de espinha dorsal deste artigo endereçado à reflexão de alguns processos de trabalho.
O G.A.L. – Poleiro dos Anjos, de São José do Rio Preto, utilizou diversos espaços, dentro e fora da sala de teatro, em BLANCHE! e, mesmo que tenha provocado algum prazer estético com as imagens criadas em belíssimos pontos do Centro Cultural Wurth, acabou por esgarçar o espaço sem dar sentido a ele.
Um Bonde Chamado, de Tennessee Williams, embora tenha servido apenas como mola propulsora para o projeto, não demonstrou, nem como matriz do mesmo, a sua atmosfera sufocante e promíscua que marca a trajetória de Blanche Dubois, personagem fascinante e pouco explorada no trabalho. Em lugar de se ater ao coração do que deseja abordar, o G.A.L. criou um Shiva com apontamentos em diversas direções imagéticas por seus inúmeros braços, deixando a desejar no preenchimento desses apontamentos. Como processo, o G.A.L., ao invés de se sentir fracassado, tem a oportunidade de olhar para seu imenso leque de criações e selecionar, sacrificar elementos que dispersem o conjunto, e, assim, alcançar a “bem-aventurança”, conforme nos sugere Joseph Campbell em O Poder do Mito.

Acostumada a ocupar o quintal do Quilombinho, em Sorocaba, a Cia. Teatro de Fulô transpôs com êxito sua pesquisa sincrética entre o universo de Guimarães Rosa e a cultura afrodescendente para o palco à italiana.
O trabalho é calcado na interpretação – Ana Antunes, Daiana Coelho e Gladson Reis – e, esta, plena de verdade, intercedeu para que o resultado fosse bem-sucedido mesmo que a iluminação tenha sido inadequada.
*Michel Fernandes viajou a convite do Projeto Ademar Guerra