Nanda Rovere, do Aplauso Brasil (Nanda@aplausobrasil.com.br)

SÃO PAULO – O Comediante, último trabalho de José Wilker (que faleceu antes da peça estrear. Anderson Cunha assumiu a montagem após sua morte), é livremente inspirado no clássico do cinema americano Sunset Boulevard (Crepúsculo dos Deuses), obra prima de Billy Wilder, e conta a história de um ator, vivido por Ary Fontoura, que, em sua velhice, não distingue o que é ficção e realidade. Vindo de bem-sucedida temporada carioca, o espetáculo estreia sexta-feira (16), às 21h30, no Teatro Raul Cortez.
A peça fala sobre o tempo, a velhice, a solidão, a vaidade, a finitude do homem e, sobretudo, sobre a vida de pessoas comuns que terminam os seus dias solitários e ainda não perderam a sua capacidade de sonhar. Segundo Anderson Cunha, “mistura drama, emoção e humor para mostrar a história de um velho ator deslumbrado com a sua imagem, que vive num mundo paralelo, entre a realidade e a fantasia”.
Ary Fontoura, após sete anos afastado dos palcos, interpreta Walter Delon, um homem decadente, à beira da loucura, que vive das lembranças do passado em um universo de thriller e suspense.
Delon está confinado num velho casarão e nesse local ele vive num mundo imaginário. A sua governante criou um mundo fictício e faz de tudo para que o ator acredite que ainda é amado pelos fãs e convidado para trabalhos.

Na residência, o clima é estranho. Ícones como Bette Davis, Marlene Dietrich, Marylin Monroe e Greta Garbo estão ao lado de personagens que fizeram parte da vida de Delon, como Teresa, a sua ex-mulher. Além disso, objetos da carreira do veterano ator estão espalhados por toda parte e ajudam a alimentar o sonho de um sucesso que não existe mais.
Para tentar tirar o ator do ostracismo, o seu agente Eric (Gustavo Arthiddoro) e sua governanta Norma (Angela Rebello) planejam o lançamento de uma biografia, função que será entregue à jovem jornalista Júlia.
Aos poucos, a jornalista desvenda o quanto o cotidiano de Delon é marcado por encenações, como festas imaginárias e convites para trabalhos que nunca se realizam.
Eric é inescrupuloso, almeja ganhar dinheiro com a volta do ator. Já Norma, dedicou boa parte de sua vida a Delon.
A governanta alimenta a ilusão de que a sua fama persiste porque quer o seu bem, a sua felicidade, não visa nenhum lucro financeiro com a volta do seu patrão ¨aos holofotes¨.
O Comediante traz um tema atual, que faz uma crítica à indústria cultural do entretenimento, numa época em que a mídia trata os atores como produtos rentáveis e também descartáveis.
O desrespeito às trajetórias dos grandes atores não é algo novo, cada vez mais vemos artistas reclamarem dos poucos convites que recebem, sobretudo, para trabalhos na TV.
Neste sentido, Fontoura comenta que os atores mais novos estão tomando o lugar dos mais velhos, Um processo natural, mas que não pode ser sinônimo de desrespeito aos artistas e às suas trajetórias.
¨Precisam entender que os atores mais velhos têm uma história¨.
O Comediante, além de valorizar o talento e a experiência de Fontoura, é uma declaração de amor ao teatro, como salientou o ator nas entrevistas para a divulgação do espetáculo.
O Comediante é uma homenagem ao ator José Wilker
Assim que o ator e diretor José Wilker faleceu, a equipe do espetáculo parou. O susto e a tristeza foram muito grandes. Não sabiam o que fazer, qual caminho seguir. Já havia um afeto muito grande entre todos e um entendimento do texto e do caminho que a montagem iria tomar.
Todos concordaram que Anderson deveria assumir a direção porque além de ser um jovem talento, ele estava muito integrado com Wilker, demonstrando muitas semelhanças com o diretor na maneira de entender o texto e conceber a encenação.
Ary Fontoura conheceu José Wilker em 1969. Era um grande amigo do ator e diretor. Atuaram juntos na TV e no teatro e tinham uma relação de admiração e cumplicidade.
Segundo Fontoura, o espírito brincalhão de Wilker marcou o relacionamento de amizade e profissional entre os dois.
¨Ele merece ser lembrado da forma como ele era: Com humor¨, diz.
Foi ele q1uem apresentou a peça ao amigo, pois ficou animado em atuar numa obra dramática, já que está acostumado com trabalhos mais leves.
¨Queria algo que me desafiasse, que mexesse comigo¨, diz. ¨Fazer Walter Delon significa ver a minha profissão (onde se cultua o ¨eu¨) e lidar com os sentimentos mais variados possíveis, como a vaidade¨, complementa.
Para o ator, O Comediante é uma declaração de amor à arte dramática.
¨Todos nós, envolvidos neste trabalho, tentamos reproduzir o que o Wilker queria. É a nossa homenagem!”, ressalta.
Angela Rebello conta que sempre pensa em Wilker quando está em cena.
¨Era uma pessoa generosa e aberta. Foi uma grande perda. Continuamos nos sentindo em casa mesmo sem o Zé, afirma a atriz, salientando que ele estava sempre alegre nos ensaios.
Para Carol Loback, ter trabalhado com Wilker foi um grande aprendizado e a partir dessa experiência, ela começou a subir no palco com um olhar mais questionador.
¨ Ele é o exemplo do que um artista deve ser¨, opina.
Gustavo Arthiddoro ainda se emociona muito ao falar de Wilker. Como os colegas de palco, o ator destaca que trabalhar com Wilker foi um enorme aprendizado e a sua partida foi um fato muito triste.
¨Foi como perder um membro da família¨, lamenta.
Ficha Técnica:
Autor: Joseph Meyer
Direção: José Wilker e Anderson Cunha
Elenco: Angela Rebello, Gustavo Arthiddoro e Carol Loback
Cenógrafo: José Dias
Figurinista: Marília Carneiro
Iluminador: Maneco Quinderé
Trilha Sonora Original: Marcelo Alonso Neves
Diretora de Movimento: Marcia Rubin
Projeto Gráfico: Equipe de marketing Chaim Produções
Fotos: Leonardo Aversa
Registro Videográfico: Eduardo Chamon
Visagista: Rose Verçosa
Produção Executiva e Administração: Rose Dalney
Diretor de Produção: Giba Ka
Produção Geral: Sandro Chaim
Produtores Associados: Ary fontoura e Sandro Chaim
Apresentado por: Bradesco
Patrocínio: Ministério da Cultura
Serviço
O Comediante
Teatro Raul Cortez (534 lugares)
Rua Dr. Plínio Barreto 285 – Bela Vista
Informações: 3254.1631
Bilheteria: terça a quinta das 14h às 20h; sexta a domingo a partir das 14h. Aceita todos os cartões de débito e crédito. Não aceita cheque. Ar condicionado e acesso para deficientes. Estacionamento do teatro: R$ 19
Vendas: 4003.1212 – www.ingressorapido.com.br
Sextas 21h30 | Sábado às 21h00 | Domingos 19h00
Ingressos:
Sextas R$ 70 | Sábados e Domingos R$ 80
Duração: 90 minutos
Recomendação: 12 anos
Pré-estreia para convidados: quinta-feira, dia 15, às 21h00
Estreia dia 16 de janeiro de 2015
Temporada: até 15 de março