Kyra Piscitelli do Aplauso Brasil (kyra@aplausobrasil.com)

SÃO PAULO – Jocasta é um dos espetáculos imperdíveis querondou São Paulo entre o ano passado e o início deste ano. A temporada acaba dia 27/03, no Eva Herz. O monólogo estrelado pela atriz Débora Duboc é incrível não só pela atuação da atriz ou pela direção de Elis Andreato – que também é responsável pelo texto da peça. A atenção merecida é pela a inversão de papeis. Jocasta, a mãe que vira esposa do seu próprio filho na tragédia escrita por Sófocles, morre enforcada e calada na peça original. Mas na versão de Andreato, ela tem a palavra e o público tem a chance de ver em cena o que pode ser chamado de Complexo de Jocasta. As questões levantadas pela personagem, infelizmente, ainda servem para as mulheres de hoje.
O Complexo de Édipo é conhecido da maioria: a história do rapaz que sem saber mata o próprio pai e casa com a sua mãe, virando rei de Tebas. Édipo Rei é a primeira peça da trilogia do grego Sófocles. Parte da trilogia ainda têm as peças Édipo em Colono e Antígona. As três falam de autoconhecimento, do homem, do destino e das leis impostas pelos deuses e pelos homens.
E embora o último texto traga uma mulher como protagonista, as fragilidades dela não são postas em questão. Mas, em Jocasta – de Elias Andreato – sim. As vulnerabilidades de um mundo montado do gênero masculino para o masculino estão todas lá.
Em Édipo Rei, sem suportar a dor de ter formado uma família com seu próprio filho, Jocasta se suicida. Mas, o que vemos em cena no Eva Herz é mais do que isso. Vemos o lado feminino da história. Lado não explorado no clássico. O que Elias Andreato e Débora Duboc é subverter um clássico, trazendo um novo sentido para a obra, escrita antes de Cristo.
O grande complexo de Jocasta evidenciado na peça é o prazer; o gozo da mulher. “Que deuses são estes?” Pediu à Afrodite gozar em seu desejo, mas à mulher é proibido esse gozo.
O Complexo de Jocasta é uma maldição que não recai só para as mulheres de Tebas, mas atravessa o tempo e atinge até hoje as mulheres.

Um exemplo são os vídeos ou fotos de momento íntimo entre um casal. É comum, quando um material desses vaza na rede, a mulher ser condenada. Condenada por que aceitou ser gravada ou fotografada, condenada pelo prazer que sente. A figura masculina, poucas – ou arrisco-me a dizer nunca – é questionada. É como se não fosse ele o responsável pela quebra de um acordo feito entre quatro paredes.
Em Jocasta, Elias Andreato exercita uma característica especial sua: quase sem cenário ou distrações maiores, ele confia no texto e no autor em cena. Com isso, dá força à palavra. Fez isso quando montou Édipo e faz de novo em Jocasta.
Débora em uma entrega total envolve a plateia na releitura do clássico. Envolvente é útil para entender a sociedade, Jocasta merece ser vista.
Jocasta
De 22 de janeiro a 27 de março de 2014
Quartas e Quintas, às 21h
Duração: 60 minutos
Faixa etária: 14 anos
Ingresso: R$40
Informações técnicas:
Com Débora Duboc
Texto e Direção: Elias Andreato
Diretor Assitente: André Acioli
Música Original: Daniel Maia e Jonatam Harold
Iluminação: Alessandra Marques e Wagner Freire
Figurino: Fause Haten
Espaço Cênico: Fábio Namatame
Logo: Elifas Andreato
Programação Visual: Denise Bacellar
Assessoria de Imprensa: Morente Forte
Fotos: João Caldas F, Vicente e Lu Costa
Operador de Som e Luz: Alex Silva
Camareiro: Jô Nascimento
Direção de Produção: Fernanda Signorini
Realização: Signorini Produções e Companhia Trimitraco
Local
Unidade: Conjunto Nacional
Endereço: Av. Paulista, 2073 – Bela Vista – São Paulo/SP