Afonso Gentil, especial para o Aplauso Brasil (aplauso@gmail.com)

SÃO PAULO – Lida, a sinopse da história de E o Vento Não Levou soa curiosa. E só. Mas, focalizando os bastidores super isolados e super secretos da famosa filmagem do romance de Margareth Mitchel, E O Vento Levou, o dramaturgo norte-americano Ron Hutchinson acrescentou toneladas de reflexões (divertidas) e de observação (aguda) sobre a Hollywood daquela época (década de 30 do século passado), envolvendo um produtor lendário – David O. Selznick – e sua dedicadíssima e anônima secretária – um diretor em ascensão – Victor Fleming – e um renomado roteirista, Ben Hecht.
Uma reunião tão agitada quanto explosiva! Com isso Moonlight and Magnolias, no original, soa como sempre oportuna homenagem ao humor anárquico dos Irmãos Marx, insuperáveis até os dias de hoje, pobres desses piadistas da, Stand-up Comedy brasileiros que assolam os palcos paulistas…
A tradução de Isser Korik (também produtor e ator da peça) dá aos diálogos uma fluência que funciona às maravilhas em nossa língua, não comum, infelizmente, em nossos palcos. Isser também funciona com invejável desenvoltura na pele do teimoso e truculento produtor do filme. Henrique Stroeter mantém a alta voltagem das cenas, com seu reconhecido talento para papeis cheios de sutilezas psicológicas (vide A Vaca de Nariz Sutil em brilhante desempenho). A surpresa corre por conta de Fábio Cadôr, ainda de curta trajetória no teatro paulista. Na pele do diretor Fleming, Cadôr faz prever um intérprete daquela elegância cênica nascida do “menos”. Do comedimento. E roubando a cena no pouco que lhe resta, a meio sumida Luzia Meneghini, coroa o final com explosiva, mas afetuosa manifestação.

O equilibrado resultado do espetáculo tem no veterano encenador Roberto Lage o seu seguro condutor, senhor dos segredos do movimento, do ritmo e da pulsação das cenas. Lage desperta com suas direções o respeito e a simpatia que só quem ama o Teatro acima das vaidades provoca.
E o Vento Não Levou alça-se à condição de alta comédia pela sábia inclusão de reflexões sociais, de indagações éticas do papel da indústria cinematográfica (leia-se, hoje, da televisão) na formação das massas, em meio a constantes fagulhas de humor judeu entre os protagonistas.
SERVIÇO:
Ridículos Ainda e Sempre. Espaço Parlapatões /Praça Roosevelt, 158 – telefone 3258-4449 / 96 lugares /. Sábados, 21h, e domingos, 20h / R$ 40 (inteira) / até 23/Outubro
E o Vento Não Levou. Espaço Parlapatões /Praça Roosevelt, 158 – telefone 3258-4449 / 96 lugares /. Terças e quartas. 21 horas / R$ 30,00 (inteira) / até 14-Dezembro