Michel Fernandes, especial para o Último Segundo (michelfernandes@superig.com.br)

Há uma invasão intolerável de alguns veículos de comunicação na vida privada de pessoas públicas. É um paradoxo intrigante. Provavelmente, a tragédia que envolveu o triângulo Anna da Cunha – Euclides da Cunha – Dilermando de Assis seria alvo das capas das principais revistas de fofoca. Ainda bem que escaparam dessas miudezas fúteis. A “Tragédia da Piedade” serviu como fonte de inspiração ao delicado espetáculo Piedade, escrito por Antonio Rogério Toscano e dirigido por Johana Albuquerque, em cartaz no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) de São Paulo, de quarta-feira a domingo.
Tudo começa pelo final. Morto, Euclides da Cunha narra os momentos que antecederam o crime, fatos como a ciência do adultério, o infanticídio cometido – pois não deixou Anna amamentar um bebê que sabia ser filho de Dilermando –, a ausência pelo excesso de trabalho, os ciúmes, entre outros, são temas evocados por sua memória, num jogo delicado em que se mesclam a narrativa e o diálogo de forma saborosa e bem-sucedida.
Não se trata de mera reconstrução de fatos, tampouco de julgamento post-mortem ou um olhar especulativo e moralista sobre fatos reais. Toscano conseguiu colocar em discussão o amor, a fragilidade feminina numa sociedade liderada por homens, a confusão entre os sentimentos de amor e posse, enfim, o foco do autor é provocar a reflexão do hoje diante do ontem que se afigura bastante atual.

Nesses 10 anos de Bendita Trupe, Piedade é o mais intimista dos espetáculos apresentados pelo grupo. Em Os Collegas a tragédia familiar impulsionando a escandalosa traição do brasileiro em seu primeiro voto, depois de décadas, democrático a um inescrupuloso Fernando Collor de Mello que, pasmem!, voltou com força total a nossa Câmara do Senado, era tão recente que, sabiamente, Johana Albuquerque optou por empregar uma linguagem farsesca para dar conta da trágica comédia circense que se instaurou naqueles 1990 do Brasil. Já em Piedade, a pungência está na delicadeza, no enxuto, no mergulho.
Para tanto, Johana precisava de um time de atores que dessem conta de bailar no fio de navalha que é a conhecida como “Tragédia da Piedade” e não escorregar numa interpretação autocomiserativa, excessivamente trágica. Leopoldo Pacheco como Euclides da Cunha dá um colorido sarcástico e agudo a seu personagem, proporcionando um contraponto risível; Jacqueline Obrigon, a Anna, emociona com sua alta-voltagem na entrega ao papel, desempenhando a faceta mais trágica da peça, e Daniel Alvim, o jovem Dilermando de Assis, traz consigo a virilidade da personagem e encerra o rumo amoral proposto por Piedade.
Pra não dizer que não falei das flores, os elementos que compõem a ficha técnica do espetáculo são de extrema elegância e utilidade ao espetáculo.
Ficha Técnica
Patrocínio: Banco do Brasil / Realização: Centro Cultural Banco do Brasil – São Paulo / Texto: Antônio Rogério Toscano / Direção Geral: Johana Albuquerque / Elenco: Leopoldo Pacheco, Jacqueline Obrigon e Daniel Alvim / Cenário: Marcelo Larrea / Figurinos: Marina Reis / Iluminação: Lucia Chedieck / Trilha Sonora: Pedro Birenbaum / Fotos: Maria Clara Diniz / Designer gráfico: Cláudio Queiroz / Produção Executiva: Stella Marini / Gerência de Produção: José Maria Pereira Jr / Direção de Produção: Cia. Bendita Trupe (Johana Albuquerque e Jacqueline Obrigon)
PIEDADE
Temporada: Até 21 de março.
Horário: Quarta a sábado, às 19h30, e domingo, às 18h
Local: Teatro do CCBB (125 lugares)
Duração: 70 minutos.
Classificação Indicativa: 14 anos
Ingresso: R$15,00 e R$7,00 (meia-entrada para estudantes, professores, correntistas do Banco do Brasil e maiores de 60 anos)
Horário da bilheteria: de terça a domingo, das 10h às 20h.
Informações: (11) 3113-3651 ou 3113-3652
Ingresso antecipado: www.ingressorapido.com.br / (11) 4003-1212
Centro Cultural Banco do Brasil – São Paulo
R. Álvares Penteado, 112, Centro
Próximo às estações Sé e São Bento do Metrô
11 3113 3651 / 11 3113 3652
Acessos – Estações Sé e São Bento do Metrô. Praças do Patriarca e da Sé.Acesso e facilidades para pessoas com deficiência física// Ar-condicionado // Loja // Cafeteria Cafezal
Estacionamentos – Opções de estacionamentos particulares na Rua Boa Vista, Rua Senador Feijó e Rua Libero Badaró. Confirmar dias e horários de funcionamento.
Estacionamentos Conveniados
Jockey Club – Rua Boa Vista, 280
(R$ 10,00 pelo período de 4 horas. Necessário carimbar o ticket na bilheteria do CCBB).
Informações: (11) 3241-5433
Estapar Estacionamentos
Rua da Consolação, 228 (Edifícos Zarvos)
(R$ 10,00 pelo período de 5 horas. Necessário carimbar o ticket na bilheteria do CCBB).
Informações: (11) 3256-8935
Van faz o transporte gratuito até as proximidades do CCBB – embarque e desembarque na Rua da Consolação, 228 (Edifício Zarvos) e na XV de novembro, esquina com a Rua da Quitanda, a vinte metros da entrada do CCBB.