Michel Fernandes, do Aplauso Brasil, (Michel@aplausobrasil.com.br)

SÃO PAULO – Qual a relação entre o mito de Lúcifer e as manifestações públicas contra o aumento das tarifas do transporte público do ano passado? Essa questão é o motor da pesquisa do grupo Zona de Operação, com artistas-aprendizes do curso de formação em artes cênicas da SP Escola de Teatro, em Lúcifer que estreia amanhã no Viga Espaço Cênico.
A direção e organização dramatúrgica do espetáculo é assinada por Luciano Gentile, artista educador na SP Escola que trabalha com o grupo de artistas aprendizes há quase dois anos, tem como um dos alicerces do trabalho, além da análise da conjuntura socioeconômica, o Documento 53 do livro Urântia, de autor desconhecido, em que Urântia é a terra e Lúcifer um líder deposto que, enquanto aguarda, em uma cela, seu julgamento, repassa os motivos que o levaram à prisão.
Os membros do grupo já tinham experiências com o teatro antes do encontro. Ana e Sofia vieram da Universidade Federal de Pernambuco (curso de Artes Cênicas) para complementar os estudos em São Paulo; Isabela e Zé já eram de São Paulo, mas estudaram fora e retornaram, assim como a jovem produtora do grupo Daniela, que já trabalhava com produção na cidade. E para completar, Luciano: ator, diretor e professor de teatro em São Paulo, formado em Artes Cênicas em Campinas.

Contemplado pelo ProAc – Primeiras Obras de 2013 o grupo Zona de Operação – cujos membros estão a concluir o curso – conta, ainda, com cinco profissionais de -diferentes áreas: Alda Maria Abreu, atriz e bailarina e integrante do Taanteatro, é a preparação corporal; Si Kiomi, figurinista e cenógrafa e a iluminadora e bailarina Clara Rubim de Toledo. Para completar a equipe, a sonoplastia é assinada pelos designers de som César Balbino e João Moreira.
O grupo também se prepara para um turnê, em 2015, em algumas cidades do interior de São Paulo e do nordeste. Ainda em 2015, farão um intercâmbio na Alemanha.
Em entrevista ao Aplauso Brasil, Ana Dulce Pacheco, uma das atrizes do Zona de Operação, conta sobre a relação com a escola, o processo de criação do espetáculo, entre outros.
Aplauso Brasil – O que vocês procuravam ao se inscreverem no curso oferecido pela SP Escola de Teatro e o que vocês encontraram?

Ana Dulce Pacheco – Procurávamos viver novas experiências no teatro; verticalizar o estudo sobre o trabalho de ator e abrir novos contatos. Conseguimos alcançar nossos objetivos formando o grupo Zona de Operação.
AB – Alguns de vocês tiveram experiências pedagógicas anteriores, de que maneira a nova experiência modificou vocês enquanto artistas?
Ana Dulce Pacheco – Já havíamos passado por oficinas de teatro e outros cursos em escolas livre/profissionalizantes. A Sofia e a Dulce vieram de Pernambuco, da universidade federal de lá. O Luciano (diretor) é formado em artes cênicas na Unicamp. A Isabela se formou no Senac. O Zé fez cursos voltados às artes cênicas e a Daniela igualmente. A SP, principalmente o curso de atuação, redimensionou as nossas referências e concepções artísticas: é um trabalho como qualquer outro, exige treino, abertura; imprescindível para a humanidade, e se operado com integridade transforma a todo momento nossas vidas.
AB – Quais suas expectativas e plataformas autossustentáveis para enfrentar o mètier profissional?
Ana Dulce Pacheco – A princípio garantiremos a subsistência com trabalhos paralelos (não teatrais) e buscaremos financiamentos pelos editais destinados ao teatro. No momento, estamos na produção do espetáculo Lúcifer com apoio do ProAC. Pretendemos circular em festivais e mostras competitivas; organizar oficinas oferecidas a partir de nossa metodologia de trabalho e futuramente investir em uma sede própria que possamos nos autossustentar.
AB – Quando surgiu a afinidade com o artista-orientador do trabalho (Luciano Gentile) e o que mais é aprazível na linguagem de cena?
Ana Dulce Pacheco – Acredito que tenha sido uma afinidade de olhar e desejo: uma profunda suspeita em relação ao mundo, uma obsessão. Cada procedimento no curso regular – uma avaliação, um jeito de falar, um foco de discussão – levava a uma ressonância e interesse de fricção e trabalho. A principio chamamos o Luciano para orientar um germe de pesquisa e quando percebemos, ele já estava sendo o diretor do nosso primeiro espetáculo, já estávamos colocando nosso projeto no Proac- primeiras obras do ano passado e então o grupo se efetivou com 6 membros. Foi um daqueles encontros que começaram despretensiosamente e que está dando super certo e esperamos que a vida seja longuíssima!
AB – Como surgiu a ideia de entrelaçar fatos recentes ao material literário redundando no espetáculo?
Ana Dulce Pacheco – Nosso processo foi atravessado bruscamente pelas manifestações de junho de 2013, que de repente viraram o mundo, nossa rotina de cabeça para baixo e começamos a vibrar as sensações de como se vive depois de uma insurreição. A escolha do material literário já se deu contaminado por isso. Logo, a tentativa de dar vida a este e reconstituir os fatos da Rebelião de Lúcifer do livro de Urântia colocou-nos apenas o desafio de composição do grau de literalidade em cada milímetro poético, mas o entrelaçamento já estava feito. Assim sendo, ao já ter o mito de Lúcifer, aquele que olha de forma diferente o mundo, como poderíamos também ser Lúcifers diante da situação sócio-política que se encontrava (encontra) o país?
AB – Além da interpretação como elementos como luz, cenário, trilha e figurino dialogam com a montagem?
Ana Dulce Pacheco – São fundamentais na montagem. A luz dialoga com o cenário e figurino e o som tem vida quase que própria. Os elementos contracenam como uma dança. Fizemos uma coreografia dos elementos e nós (atores) fazemos parte dessa partitura. Usamos como referências o cineasta Andrei Tarkovsk, na dinâmica de esculpir o tempo; a trilha homenageia de forma subliminar os compositores que fizeram “pacto” com o diabo. (Rs.); A luz e o figurino trabalham com a ideia de Presente e Passado. Posto que uma pergunta alinhava toda a encenação: quando foi que tudo isso começou? (“isso” é, no caso, a sua prisão).
AB – Entre a equipe envolvida há membros de outras áreas?
Ana Dulce Pacheco – Sim. A Si Kiomi (cenário e figurino) traz uma dinâmica de figurino que brinca com os tempos (passado e presente) e esculpe o grau de literalidade em alguns personagens, como é o caso de Cristo e o uso de penas em alguns adereços dos anjos; Antônio Augusto, Drika Dias, Luisa Camacho que nos ajudaram na construção do figurino e cenário, são aprendizes de técnicas de palco na SP Escola de Teatro; João Moreira e César Balbino (sonoplastia) chegaram com o princípio de usar sons binaurais e, como dito anteriormente, o jogo com alguns cantores/compositores que fizeram “pactos” com o Diabo; A luz ficou a cargo da Clara Rubim de Toledo. Para o nosso primeiro espaço da temporada(Viga Espaço Cênico), ela quis trazer na luz a clausura, sensação que Lúcifer está, e o Viga ajudou nessa composição. Nós contamos também com o Light Designer André Boll como colaborador na luz. Na operação de luz convidamos os aprendizes da SP Daniele Meireles e Igor Sully; Toda a identidade visual do LVCIFER foi realizada pela agência de publicidade de Recife, ASSUCAR COMUNICAÇÃO.
Ficha Técnica
Direção e organização dramatúrgica: Luciano Gentile
Elenco: Ana Dulce Pacheco, Isabela Delambert, Sofia Abreu e Zé Motta
Preparação corporal: Alda Maria Abreu
Cenografia e figurino: Si Kiomi
Iluminação: Clara Rubim de Toledo
Operação de luz: Igor Sully
Sonoplastia: César Balbino e João Moreira
Operação de som: César Balbino e João Moreira
Cenotécnicos: Antônio Augusto, Daniela Garcia, Drika Dias e Luisa Camacho Calvano
Assessoria de Imprensa: Robson Catalunha
Fotos: Marcello Garcia
Produção: Daniela Garcia
Realização: Zona de Operação
Serviço
Lúcifer
Sinopse: Enquanto aguarda seu julgamento, Lúcifer tenta reconstituir os fatos que o levaram à prisão.
Direção e organização dramatúrgica: Luciano Gentile
Elenco: Ana Dulce Pacheco, Isabela Delambert, Sofia Abreu e Zé Motta
Estreia: 27 de Setembro
Temporadas: 27 de setembro até 12 de outubro: sábado às 21h e domingos às 19h. / 4 de novembro até 10 de dezembro: terças e quartas às 21h.
Duração: 60 minutos
Onde: Viga Espaço Cênico
- Capote Valente, 1323 – Pinheiros, São Paulo – SP, 05409-003
(11) 3822-7049
Quanto: Pague Quanto Puder
Classificação etária: 16 anos